Na clínica posso dizer que grande parte das demandas que chegam, depois de algumas sessões, é sobre o preço que se paga por X coisa, o quanto é difícil bancar aquilo que se propõe, ou as vezes não se propôs porque não quis escolher, mas aí tá pagando mesmo assim.
Eu costumo dizer que nós escolhemos melhor quando pensamos naquilo que estamos dispostos a abrir mão do que quando estamos pensando naquilo que queremos alcançar/ganhar com aquela escolha.
Porque quando escolhemos pensando apenas nos ganhos, tudo parece certo demais, beirando a perfeição, só se idealiza aquilo que é irreal. Mas quando consideramos as perdas que teremos para ter determinado ganho, é que conseguimos perceber com clareza onde estamos nos metendo (e se teremos força pra nos manter nos firmes na escolha e no caminho escolhido).
Não estou aqui dizendo que se deve considerar demais, que há uma certeza absoluta a ser alcançada. Não há.
Não se faz escolhas pensando em tudo que pode dar errado, pois isso é ansiedade, a face do medo. É sobre escolher com a clareza da conexão daquilo com o seu eu mais íntimo, com aquilo que você sabe de você, sabe que consegue mesmo quando nem todo mundo te disse que você conseguiria, naquilo que tem a sua cara mesmo que ninguém esteja indo por aquele caminho.
Naquilo que ecoa quando você pensa em desistir e te faz lutar só mais um pouquinho, sempre e sempre, um passinho por vez.
As vezes a gente tem a sorte de topar com pessoas que fazem com que a gente renove o nosso olhar sobre a vida e aprenda construir firmeza dentro de nós mesmos, nos ajuda a ter um olhar mais caloroso para conosco, nos ajuda a ser mais maleáveis com nossos equívocos e recomeços, mas caso não tivermos essa sorte, que a gente saiba que nem tudo depende dela para que as coisas caminhem bem.
Sempre levo o questionamento seguinte: se você pôde fazer o trabalho de se colocar em determinada situação que não te agrada, porque não conseguiria trabalhar mais um pouquinho para agora encontrar o caminho para fora da situação? E quem sabe depois do respiro, construir uma melhor?
A gente consegue. Mesmo que o que tem se espalhado por aí hoje em dia esteja baseado contraditoriamente em consumo e escassez. Nós somos mais complexos do que isso. Tem dor e tem beleza. Tem medo e tem alívio. Ter pouco as vezes é ter muito. Tem beleza e dificuldade. Tem amor e tem conflito. Tem desejo e tem o preço.
Que a gente possa abraçar nossas contradições, nossos caminhos, que a gente possa escolher e se manter firme, com a beleza da ambiguidade das escolhas, com o preço daquilo que escolhemos ganhar e perder, com o alívio de estar no lugar que pudemos sustentar. Que a gente não se acovarde diante das dificuldades dos nossos caminhos, mas que aprendamos a descansar e seguir, um dia de cada vez.
Beijos e cuidem das suas cabecinhas 😊