Bom, acho que não tem um jeito certo de começar um primeiro texto, né?
Meu nome é Adriany e “Bucorst” é a junção de todos os meus sobrenomes. Eu sempre tive uma questão com eles, porque pensava que se usasse só o último estaria honrando apenas o sobrenome do meu pai, e se usasse apenas o do meio, estaria honrando apenas o da minha mãe, então pra ninguém ficar de fora (e ao mesmo tempo deixar todo mundo de fora também) criei esse. E até acho que me caiu bem.
Eu sempre gostei de escrever e essa rede me cativou por essa possibilidade, pela lógica completamente diferente das outras e por caber muito mais do que sou aqui, visto que não preciso me apertar entre pequenos limites de caracteres ou tempo de vídeo.
Inclusive a lógica social que vivemos tem tanto disso, fazer a gente se apertar em lugares que não nos cabem, nos direcionar para jeitos certos de ser/fazer, agir de certa maneira para agradar aqui e ali, pra ser bem visto lá e acolá, pra alcançar lugares X e Y, e eu sempre tive muita TANTA dificuldade de me adaptar a tudo isso. Dificuldade essa que me rendem 10 anos (e contando) de análise, muitos anos falando sobre como eu gostaria de ser mais adaptável, com ela sempre pontuando de que isso de se adaptar ao outro e ao capitalismo não tem valor algum.
Quando eu era criança meus sonhos de profissão tinham a ver com coisas que eu amava, queria ser escritora, queria trabalhar com artes (sempre gostei e fiz várias), queria saber o que era “ser humano” e sempre filosofei muito sobre a vida, e essa última foi a que sustentei me aproximar, sou psicóloga e psicanalista e exerço (muito feliz) a função, mas todas as outras fui deixando o prazer de fazer para trás, atolada com questões adolescentes e direcionamentos familiares do que era certo e rentável, do que era estável e me traria felicidade, me rendi a escolhas que não eram tão minhas assim - fiz um concurso público e passei.
Já estou trabalhando no estado há 10 anos, concilio as 8 horas de trabalho de serviço público por dia com as horas de atendimento online que faço enquanto psicanalista, e sim é esgotante, sobra pouco espaço e energia pra tantas outras coisas importantes para mim, como uma pessoa exausta pode encaixar o ócio criativo e o tempo de colocar a criação no mundo em sua rotina se no pouco espaço de tempo que resta entre as atividades tem que cuidar da própria casa, alimentação, cachorro, exercícios físicos e tudo aquilo que uma vida adulta demanda?
Não posso ser ingrata e dizer que esses anos de serviço público não me renderam muitos conhecimentos e aprendizados, crescimento pessoal, dinheiro pra realizar sonhos de viagem, compras e muitas coisas mais, mas de uns anos pra cá venho me questionando o quão afastada estou de coisas que me nutrem de uma posição que o dinheiro não ocupa lugar, e de quão afastada estou de partes especiais de mim por conta disso. Depois de muito alugar o ouvido da minha analista com todo esse dramalhão e perceber o quanto já estava chatíssimo falar disso, resolvi -finalmente- apenas achar maneiras possíveis (não ideais) de voltar a fazer tudo que me traz de volta, ir me reconectando com minhas partes especiais linha a linha de escrita, parte a parte de minhas artes e aos poucos, passinho por passinho, ir descobrindo onde quero ir com isso e SE quero ir a algum lugar.
Me inscrevi em um curso de cerâmica e decidi escrever por aqui, não sei se conseguirei ter uma frequência fixa, tipo toda quarta feira, como eu gostaria, mas vou continuar a dar os passinhos possíveis - repetindo isso como um mantra todo dia sim - e ficarei bastante feliz em ter companhia nessa jornada de encontro com minha eu que gosta de parir palavras no mundo.
Até loguinho, um beijo e cuidem de suas cabecinhas!
Adriany,
Quando vi você colocando nos stories que tem uma newsletter, eu logo vim ler.
O curioso é que vi seu stories com a pagina da minha newsletter aberta, porque hoje estou em um dia mais tagarela e pensando em reativar o espaço de escrita longa, demorada, pelo simples prazer de escrever e narrar algo, alguma coisa.
Foi uma delícia te ler e me encantei com a saída da junção de sobrenomes. Isso me tonteia por aqui. Quem sabe agora me dedico a pensar um pouco mais sobre isso para poder criar algo com/a partir disso.
E, por fim, bem vinda a este espaço de escrever publicamente. Se lançar e lançar seus escritos ao mundo. É mais sobre desejo do que sobre frequência, penso eu. Além disso, passinho em passinho também é movimento!
Um abraço!