Dias atrás estava conversando com uma amiga de infância por WhatsApp, a qual já faziam vários meses que não conversava, e contando um fato da vida dela ela me disse, “lembrei de você dizendo pra professora que perguntou o que você queria ser quando crescer, e você respondeu que você queria ser feliz” e isso me tirou risadas, porque imaginei que eu não tinha entendido o que a professora tinha perguntado realmente, o que era (e continua sendo) bem comum, eu demoro a interpretar algumas coisas e só depois que percebo o que a pessoa na verdade estava perguntando ou querendo dizer.
Mas e se eu entendi sim a pergunta e só respondi da maneira mais genuína possível?
Isso fez com que eu trouxesse esse questionamento pro hoje e me dei conta de que, de fato, eu responderia a mesma coisa. No fim das contas isso sempre foi o que me interessou, não me importava muito o que eu ia fazer quando crescer, desde que eu me sentisse feliz.
No meu contexto as pessoas costumam associar o que ser quando crescer com a vida profissional e uma vida profissional onde você tem reconhecimento (e/ou ganha muito dinheiro) mostra que você tem sucesso e se você tem sucesso você provavelmente vai estar feliz. Bom, eu nunca fiz essas associações, inclusive continuo não conseguindo fazer isso, nunca entendi porque uma coisa é relacionada a outra.
Isso já foi motivo de constrangimento da minha parte, eu achava que eu tinha que ter a todo custo um desejo profissional que movesse minha vida, que me impulsionasse, que me fizesse querer alcançar algo. Que era isso que me traria a sensação de que “dei certo” na vida, sucesso, tudo valeu a pena. Mas essa coisa nunca me aconteceu.
Eu gosto muito da minha profissão, adoro estudar vários tipos de assunto que a constitui, adoro saber que meu trabalho foi efetivo, que algo melhorou, que facilitei algum caminho, e também é fato que vivemos em um mundo que as portas se abrem e se fecham dependendo do quanto a gente consegue receber em troca da nossa força de trabalho, mas, o que eu venho me tornando enquanto “cresço” está muito além do que eu escolhi exercer como profissão e de qualquer pequena parte de um todo que me constitui.
Tem o fato de no caminho eu ter descoberto coisas sobre mim que dão bons motivos para que tantas ideias e noções sociais não tenham nenhum sentido na minha cabeça (e talvez o motivo de tantos pensamentos também) - eu sou autista- mas isso não muda a questão de que “o que a gente se torna quando cresce” e o “sucesso” disso, não está necessariamente atrelado a reconhecimento por algo que se faça ou trabalhe. É tudo tão único e individual.
Para mim, por exemplo, sucesso faz parte de conseguir não ser completamente atormentada pelos ideais desse mundo maluco, e felicidade também é quando tenho meus limites e necessidades respeitados nos lugares que transito, quando não preciso mascarar como eu sou para não incomodar quem quer que seja.
Bom, pode ser que na verdade essa seja só uma pergunta básica e sem tanto propósito que as pessoas costumam fazer para as crianças de maneira despretensiosa e boba, e ai vocês já sabem… mas, vou parando de pensar sobre isso por aqui porque tantas outras coisas que eu não entendo, me esperam.
Vou continuar andando do meu jeitinho, sem nada mais que me mova para além da simples vontade de me mover pelo mundo.
Beijos e cuidem das suas cabecinhas <3