Pensei que deveria estar cheia de metas, até que vi que eu só queria não pensar nisso.
Desde sempre fui a pessoa que começa todo ano com um caderninho escrito tudo que foi bom durante o ano que acabava, coisas que havia conquistado e não conquistado, tudo que aprendi e coisas que ainda gostaria de melhorar, sobre minhas perspectivas e tudo mais. Então escrevia novas metas e me prometia que dessa vez ia cumprir toooodas.
E de repente fui pega nesse início de 2024 com uma sensação zero, neutra, sensação nenhuma sobre isso. (quem pegou a ref? Kk)
Talvez fosse porque estou com uma anemia braba e resolvendo várias questões de saúde desde o ano que passou, talvez seja os 33 anos e meus aprendizados sobre metas e expectativas, talvez eu só estivesse cansada mesmo OU (fui pega de supetão por essa possível constatação) e se de repente na verdade eu só estivesse finalmente calma, confortável e me sentindo segura e feliz no lugar onde estou – na vida.
Sempre fui a pessoa que queria conquistar muitas coisas (não apenas materiais), achava que precisava estar em constante evolução, que precisava me aperfeiçoar para merecer estar em alguns lugares, que precisava ser firme comigo e organizar metas de maneira linear, também queria viver sentimentos intensos de todas as maneiras, e assim fui aprendendo a navegar nos altos e baixos que tudo isso me causava e a me divertir nessa montanha russa. Mas de uns tempos pra cá isso foi se esvaziando de sentido, fui fazendo escolhas que me colocavam o pé no chão por mais tempo, entendendo sobre o sentido daquelas coisas pelas quais eu achava que “tinha que lutar”, acalmando a caminhada, ouvindo de maneira mais desconfiada tudo aquilo que supostamente me fariam evoluir.
Então, olhei para isso que eu agora estava lendo como uma sensação zero/neutra de uma outra perspectiva.
Cheguei em casa da academia e ao subir a escada vi o Belchior (meu cachorro) me olhando feliz, balançando o rabinho, com as orelhinhas para trás, todo animado por me ver. Naquele segundo que ele estava me olhando feliz, eu fui invadida também por uma felicidade misturada com ternura e com aimeudeusducéuquecoisinhamaislinda.
Depois disso fui tomar um banho para ir pro trabalho e coloquei uma musica que gosto, em dado momento eu pensei “caramba como eu gosto desse ritmo” e fui novamente invadida por felicidade, agora misturada com identificação. Antes de ir pro trabalho tive que fazer algumas funções onde eu não senti nada, afinal estava apenas fazendo coisas que precisavam ser feitas. Chegando no trabalho, continuei fazendo coisas que precisavam ser feitas e que não acho nem chatas e nem legais, até que tive um intervalo e comecei a escrever aqui, quando pensei “nossa como eu gosto de escrever” e fui invadida por felicidade e sentido.
A vida acontecendo.
Enquanto escrevo esse texto fui lembrando de vários momentos onde a felicidade surgiu de um jeito qualquer, onde eu respirei satisfeita, momentos onde eu só estava existindo, e mesmo onde algo desagradável aconteceu, mas eu fiquei calma e fiz o que tinha que ser feito. Talvez eu só tenha mudado e estou me (re) conhecendo e por isso a sensação de neutralidade, talvez eu só estou percebendo que eu não tenho novas metas, o caminho pros meus planos já estava acontecendo. Eu só sei que não estou afim de fazer dos meus desejos metas a serem alcançadas como numa corrida dentro de mim mesma, ou algo pelo qual eu deva me cobrar a ser, fazer, produzir, melhorar e todas as imposições que o sistema de hoje nos faz internalizar como nossas também. Eu só quero fazer o que eu quiser sem precisar me cobrar ou colocar um senhor feudal na minha mente pra me escravizar.
A verdade é que eu não estou com vontade de me organizar da maneira que eu já fiz um dia, estou querendo viver o momento e reconhecer os pequenos instantes de bem estar, sentido, identificação, tédio, alegria, raiva... olhar no olho de cada uma dessas sensações e cumprimenta-las, chamar pra tomar um café, perguntar o que ela acha da vida.
Estar presente de maneira mais micro. Diminuir a lente. Identificar pequenezas.
Não estou com pressa. Não tenho nada pra correr atrás imediatamente. Estou vivendo um dia por vez, aproveitando o que já é e só existindo quando nada é. Um pouco sem saber como sentir o que eu estou sentindo num mundo que diz insistentemente de várias maneiras diferentes que eu deveria estar sentindo de outro jeito, mas olhando pra isso de uma maneira melhor.
Eu poderia ter resumido todo esse texto em: “Galera to nem ai pra metas, to seguindo um fluxo interno que to aprendendo a navegar, vamos viver o ano com toda a verdade que pudermos e é isso”, mas sabe como é, escrever também é elaborar e eu gosto de fazer isso num tipo de linha do tempo pra dar contexto, mesmo que as vezes fique mais confuso que qualquer outra coisa, porque muitas vezes escrevo no fluxo do que penso e vocês já sabem...eu não paro de pensar.
Dessa maneira iniciado o meu ano, posso dizer que gosto muito de estar aqui e que começarei a trazer meus contos pra cá. Estou pensando ainda na melhor maneira de organizar temas e capítulos, mas no tempo certo vem aí.
Espero que estar aqui seja divertido e reflexivo pra vocês, como é para mim.
Um beijo, feliz ano novo pra todo mundo e cuidem das suas cabecinhas <3
Neste ano, depois de alguns, eu escrevi metas. Te lendo, acho que são desejos, quase como uma emanação para o universo para que, em algum momento, eu possa olhar para elas (ou esquece-las de vez).
Que "as pequenas alegrias da vida adulta" sejam cada vez mais percebidas, para te abraçar e cuidar. Que 2024 seja bom o suficiente para dar sustentação quando ele for ruim! :)