Pensando sobre romantizar a vida...
Desde janeiro que eu não dou as palavras por aqui, porque foi desde o início desse ano que elas se calaram um pouco dentro de mim, demorou pra que eu entendesse o que estava acontecendo comigo. Só agora (junho!!!) as palavras começaram a borbulhar novamente por aqui.
Passei por meses de assédio moral no trabalho que trouxeram consequências muito maiores do que as que eu conseguia perceber no período que isso estava ocorrendo. Eu fui perdendo a capacidade de sentir alegria genuína ao acordar, porque sabia o que me aguardava, fui ficando em constante estado de alerta, o que me causou uma contratura muscular e dores horríveis na cervical, fui desacreditando da minha capacidade de gerir minhas emoções e não via mais sentido em romantizar a vida. Eu estava sugada e exausta.
Pois bem, ao contrário do que eu sentia no momento sobre gerir minhas emoções, eu organizei minha raiva e tomei uma atitude (em conjunto com outras colegas) que levou ao fim essa situação, a chefe foi exonerada. Mas apesar de isso ter tido um fim, meu corpo demorou um período considerável para entender que aquela situação tinha finalizado. Cada pedacinho de mim ainda temia relaxar e ser pega de surpresa novamente.
Foi quando eu fui capaz de romantizar a vida é que eu pude me sentir eu novamente. Quando eu fui capaz de olhar a minha volta, dar um suspiro gostoso, e admirar aquele momento comum é que eu soube que eu estava me curando. Foi quando eu senti o desejo genuíno de planejar meus sonhos e me senti capaz de realiza-los é que eu soube que podia voltar pra mim. Quando eu quis fazer uma mesa bonita, enfeitar com flores, senti o cheiro gostoso de café passando, vi um passarinho cantando e me alegrei, é que eu soube que o ar tinha voltado pros meus pulmões.
Pode parecer piegas lendo daí, mas só eu e meu corpo sabemos como o “Romantizar a Vida” está longe de ser sobre pieguice, ou mentir pra si mesmo ou só fazer bonito para redes sociais.
Quando a gente perde a capacidade de olhar as coisas com beleza e esperança a gente deve analisar em que lugar do caminho isso foi esquecido, aonde isso se perdeu? O que tomou o espaço dessa capacidade? Garanto que as respostas serão esclarecedoras.
Não estou aqui falando de um lugar de positividade tóxica. Não é sobre negar a realidade e fingir que está tudo bem. Não ter tempo de fazer observações sobre a própria vida e mesmo de poder romantizar ela, inclusive, é um método do sistema em que vivemos, onde a intenção é mesmo desumanizar.
Mas é sobre viver os momentos com a presença e olhar de quem sabe que eles são especiais. E eles são especiais porque não importa quantas vezes você tome café da manhã com sua família, convide amigos para ir na sua casa, organize uma viagem, prepare um jantar, cuide de si mesmo, todos esses momentos serão únicos porque um jamais é igual ao outro.
Essa consciência me acompanha desde criança, o que já me causou muita ansiedade porque eu sabia que aquele momento tão legal que eu estava vivendo ia acabar e nunca mais se repetiria do mesmo modo e eu queria dar um jeito de burlar o tempo e fazer com que ele parasse ali. A maturidade me fez conhecer a outra perspectiva, momentos ruins também passariam e então teria espaço novamente pro ar entrar.
E foi isso que me aconteceu. O momento ruim finalmente passou, o ar rarefeito que ele deixou também se esvaiu. Agora eu tomei fôlego, um ar gostoso de respirar entrou novamente pelos meus pulmões e eu finalmente consigo não parar de pensar sobre coisas que gosto que estejam na minha mente.
Que bom que eu posso romantizar minha vida de novo.